Semanas atrás escrevi no meu Facebook que, se Marina Silva rompesse
publicamente com o Foro de São Paulo e prometesse liquidá-lo caso eleita
para a Presidência da República, não hesitaria em votar nela e apoiar
sua candidatura pelos modestos meios ao meu alcance. Logo apareceu na
internet uma entrevista à CNT
(http://sbt-canal.blogspot.com.br/2014/09/marina-responde-boatos-do-foro-sao-paulo.html), na qual a candidata anunciava a intenção de acabar com o Foro.
Dizem que a entrevista é falsa, e até acredito que seja, mas de qualquer
modo ela expressa o que os admiradores de Marina querem que os
eleitores "de direita" pensem dela, e nesse sentido é muito
significativa, precisamente pelos atos falhos freudianos que, por trás
da boa imagem pretendida, revelam uma ambiguidade inquietante.
Por um lado, Marina – ou quem pôs palavras na sua boca -– prometia
extinguir até "o último vestígio" da maligna entidade, o que é uma
notícia animadora. Mas, de outro afirmava que o Foro não existe na
prática, jamais tendo passado de uma tentativa do sr. Lula, o que é
manifestamente falso. O Foro continua em plena atividade, numa atmosfera
de euforia que seus feitos justificam integralmente.
A Declaração Final do XX Encontro, realizado em La Paz, Bolívia, de 25 a
29 de agosto último, deixa isso claro: "Decorridos vinte e cinco anos
da criação do Foro de São Paulo, uma das experiências mais bem sucedidas
e unitárias da esquerda na região latino-americana e caribenha, o
balanço da situação é indubitavelmente favorável às forças que o
compõem. Quando o Foro de São Paulo foi criado, um só país dessa região
era governado por um partido pertencente a ele, e hoje são mais de dez."
( http://forodesaopaulo.org/declaracion-final-del-xx-encuentro-del-foro-de-sao-paulo/).
Para um agente histórico que "não existe na prática", essas vitórias
são mais do que espetaculares: são mágicas. Na verdade, o Foro continua
sendo a maior, mais poderosa e mais eficiente organização política que
já existiu no continente latino-americano.
O texto de "Marina" dizia ainda que a ligação do PSB com o Foro de São
Paulo "é um boato espalhado em tempo de eleição para confundir leigos" e
que "quem fazia parte (do Foro) era uma ala do PSB ligada ao governo,
desativada há anos". Isso também é falso. O PSB ainda é um membro ativo
do Foro e participou do seu mais recente encontro (www. psb40.org.br/ not_det.asp?det=5808) em La Paz.
Por fim, vinha a afirmativa de que "esses boatos são plantados pela
turma do Aécio Neves". Isso talvez seja o mais falso de tudo. Tanto o
sr. Neves quanto os seus adeptos e, de modo geral, o seu partido, têm-se
notabilizado, sobretudo, pelo silêncio obstinado que mantêm em torno do
Foro de São Paulo, ao ponto de despertar a suspeita de cumplicidade ao
menos passiva.
Que algo nas relações entre o PSDB e o Foro não está claro nem pretende
estar, é algo que se percebe sem dificuldade pela reunião discreta entre
dirigentes do Foro e o sr. Fernando Henrique Cardoso, na presença de
alguns líderes do Partido Democrata americano, realizada em Miami em
maio de 1993.
Essa reunião só foi noticiada por um único jornal, o Granma (edição
cubana, não internacional), e justamente as cópias dessa edição, quando
pus um aluno meu a procurá-las em 2008, haviam desaparecido da
Biblioteca do Congresso e das suas subsidiárias. Coincidência ou não, a
diretora da seção latino-americana da Biblioteca do Congresso em 2008
era a mesma pessoa que tinha organizado a reunião de 1993.
Quem levantou a lebre da ligação entre o PSB e o Foro tão logo apareceu a
candidatura Marina não foi nenhum emissário do sr. Aécio Neves. Fui eu,
que sou tão entusiasta do sr. Neves quanto do consumo de pudim de
alface diet. E não puxei o assunto para favorecer candidatura nenhuma,
porém, bem ao contrário, para sugerir que a presente eleição
presidencial deveria ser suspensa pelo TSE, dada a ilegalidade dos dois
partidos mais favorecidos para o segundo turno.
Esta é, seguramente, a eleição mais irregular, mais ilegal que já se
realizou no Brasil. A Lei Eleitoral de 1995 é categórica e inequívoca:
diz o Art. 28: " O Tribunal Superior Eleitoral... determina o
cancelamento do registro civil e do estatuto do partido contra o qual
fique provado... (II) estar subordinado a entidade ou governo
estrangeiros."
Que o Foro de São Paulo é uma entidade estrangeira, multinacional,
criada em Havana por Fidel Castro e Lula; que a maior parte das
organizações que o compõem são de fala espanhola; e que uma das
especialidades do Foro, conforme confessou o próprio Lula, é ajudar os
governantes esquerdistas a interferir em segredo na política interna dos
países vizinhos – nada disso é coisa de que se possa duvidar
razoavelmente.
Pouco importando quem leve a maioria dos votos, se Marina Silva ou
Dilma, esta eleição já tem um único vencedor previsto e assegurado: o
Foro de São Paulo.
Para piorar as coisas, a candidata que aparece na entrevista com a
promessa de eliminar o monstro já vai desde logo acobertando as
atividade dele sob o pretexto pueril de que ele não existe na prática.
Cabe portanto perguntar se, por "extinguir os seus últimos vestígios”,
os autores da farsa não estão confessando, involuntariamente, que
Marina, uma vez no poder, vai eliminar só os vestígios, os traços
patentes do Foro, deixando que por baixo disso a coisa real continue
existindo sob outra identidade, sob outro nome ou sem nome nenhum, mais
invisível e onipresente do que nunca.
Afinal, quem pode levar a sério uma promessa de extinguir o que não existe?
Olavo de Carvalho é jornalista, ensaísta e prof. de Filosofia
Fonte: Diário do Comércio
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