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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Comunismo chinês e outros não toleram a liberdade religiosa

Esse é um dos fatores fundamentais a caracterizar o totalitarismo comunista: trata-se de uma ideologia (outra religião) que resulta num sistema incompatível com a liberdade de pensar, de exprimir-se, quem quer que seja, e sob a forma que desejar.
 Na China, país mais populoso do mundo, assim é tratada a vertente católica do cristianismo: pelo simples fato de nascer numa família que professa o catolicismo uma criança passa, automaticamente, a fazer parte da Associação Católica Patriótica Chinesa. Trata-se de uma versão da Igreja que segue os preceitos não do Cristo e dos Apóstolos, mas sim os do Partido Comunista Chinês (PCC). A seita conta com algo em torno de 6 milhões de “fiéis”, que são submetidos semanalmente a pregações incentivando o amor à pátria e outros ensinamentos nada religiosos — na verdade, totalmente distanciados do Deus segundo a visão de Agostinho, Tomás de Aquino e outros doutrinadores.
Obviamente, essa associação sempre esteve em conflito com o Vaticano, que se recusa a aceitar a ingerência do regime comunista chinês. Este chega a admitir a liturgia e partes insignificantes da doutrina. Entretanto, e como por natureza é intrinsecamente ateísta e adepto da prevalência absoluta do Estado, as divergências e a repressão são inevitáveis. Aliás, o Estado e o espectro ideológico do maximalismo são os pilares em que se as­senta o totalitarismo do pensamento da esquerda, principalmente quan­do aboletada no poder. A predominância dessas desavenças decorre, ainda, do fato de o Vatica­no não reconhecer os padres e bispos nomeados pela Associa­ção, não sendo raras as prisões de alguns “religiosos” aceitos por Roma e o fechamento de paróquias. Co­mu­nis­mo é isso aí: todos a serviço do partido, do Estado e seguindo co­mo cordeirinhos os líderes geniais das massas. Somente assim, acreditam piamente, estarão a serviço do povo.

Há algum tempo o caldo en­tornou para um dos “religiosos”. Tadeu Ma Daqin, um bispo que estava sendo preparado para a liderança da Associação Patrió­tica, recusou a missão e, sob ovação, anunciou que deixaria o cargo que exercia na organização a serviço do PCC. Foi preso e enviado para o monastério de Sheshan, nos arredores de Xan­gai. Tolerância zero com ínfimas discordâncias, já se vê. “Seu ato de rebeldia abre um precedente que deve ter assustado muito o Partido Comunista”, diz o padre jesuíta canadense Michel Marcil. Mais: “O medo é que outros bispos sigam o exemplo de Ma Daqin”, enfatiza o seguidor de Inácio de Loyola.

Na China, a proibição de todas as religiões data da ascensão de Mao Tsé-tung ao poder, em 1949. Foi a partir de então que os religiosos passaram a ser perseguidos e até eliminados fisicamente. Nos tempos de Deng Xiao-ping e a partir da Consti­tuição de 1982 (pasme: a China também dispõe de uma!), passou-se a permitir o culto a cinco religiões, desde que isentas de qualquer influência estrangeira. Assim é que os chineses, se quiserem praticar a fé cristã com o “nihil obstat” do Vaticano, só podem fazê-lo clandestinamente. Daí recorrem aos piqueniques onde rezam, dividem o pão e tomam o vinho da simbologia. Outros marcam encontros em casas de família, nos quais todos os fiéis são conhecidos — evitando assim a presença de infiltrados e espiões do sistema governamental. “Os chineses estão revivendo aquilo que os cristãos sofreram nos tempos das catacumbas romanas”, diz o padre canadense Michel. Apesar dessa política intolerante dos comunas, os católicos clandestinos têm um contingente de praticantes em número duplamente superior aos “fiéis” que obedecem ao Partido Comunista Chinês.

Recentemente, um casal de evangélicos aqui de Goiânia informava que uma de suas filhas, atuando como missionária enviada a Mo­çam­bique, estava sendo convidada a se retirar daquele país porque, di­ziam as autoridades daquela potência econômica do leste africano, “o povo precisa é de comida, não de religião”. Eis aí: os comunistas têm obsessão por comida e abominam um dos sentimentos mais arraigados na mente humana, qual seja a ideia de crença numa divindade, num ser superior, numa hipotética salvação para além da morte. Para os seguidores de Marx e Lênin a salvação é aqui mesmo e resume-se a uma mesa farta e em regalos inteiramente materiais. Esse é um dos fatores fundamentais a caracterizar o totalitarismo comunista: trata-se de uma ideologia (outra religião) que resulta num sistema incompatível com a liberdade de pensar, de exprimir-se, quem quer que seja, e sob a forma que desejar. Sua intolerância opõe-se à possibilida­de/ne­cessidade que a maioria dos seres humanos tem de acreditar em afirmações, lendas e crendices primitivas, mágicas. Mas e daí, o que é que o Estado ou um partido tem a ver com isso? Na verdade, os  totalitários julgam-se iluminados, os donos da verdade, os senhores da razão e da lógica. Por isso atentam contra o que há de mais íntimo no indivíduo: a sua consciência. Reivin­dicam a posse de corações e mentes.

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